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PARINDO

Eu me pari. Fiz uma cesária sorridente no peito e um parto normal pela vagina.

Não me recordo do momento exato da concepção, ideias vem de todos os lugares, são difusas, às vezes contraditórias, demoram para maturar. Além disso, um corpo que é modelado e estruturado por palavras profanas pode nascer prematuramente, sem um cerne forte. Ressignificar leva tempo.

Mas quando me dei conta, já havia brotado. Nasci.

E nascimentos são sempre nojentos. Sangue, gordura e substâncias gosmentas estão esparramadas por todos os lados. Às vezes nascemos cagados. Faz parte da criação.

O Outro, contudo, não vê com bons olhos. A autocriação é desencorajada, vista como pretensiosa e não-natural. Que monstruoso é se intervir.

Mas são monstros como eu que estão construindo novos seres, dando à luz às novas possibilidades de corpo e de mente.

Somos nós quem estamos parindo um novo imaginário social, monstruosamente livre, diverso e, portanto, incontrolável.

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