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GEOGRAFIA DO CORPO

Eu era um péssimo cartógrafo.
Não mapeava o território como um todo, mas em pedaços.
Tomava nota das regiões que me agradava e despreza as demais.
Desprezava as depressões do terreno.
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Com isso eu criava um mapa precário e cheio de emendas.
Não há poesia em um mapa despedaçado como as fotos do Tumblr nos fazem pensar, só há confusão.
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De certo me tomavam como um louco tentando desenhar um espaço alienígena que ninguém conhecia e que ninguém conseguiria ler ou explorar sem se perder.
Eu mesmo me perdi.
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Demorei a perceber que problema não era o terreno, mas eu. Os desvios que eu fazia, as fragmentações, o olhar viciado e pré-estabelecido.
Me dei conta que a rota já havia sido demarcada. ⠀⠀
Que terremoto foi.
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Eu já sabia o que esperar. O mapa havia sido desenhado por outras pessoas, em outros terrenos e circunstâncias, e eu apenas o recriava, cego, inorgânico.
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Que terremoto foi.
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Vejam bem, não há outra saída: é preciso fazer as próprias demarcações, colonizar o todo, tomar posse do que já te pertence para enfim conquistar o novo.
Só então uma nova geografia pode surgir.
Primeiro, uma geografia da mente.
Depois, uma geografia do corpo.

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