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DO PLÁSTICO

Construo meu eu a partir do plástico.
São próteses de silicone, barba a 5% e alguns ésteres de hormônio.
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Eles apontam para as superficialidades que utilizo como forma de me invalidar. Apelam para uma biologia ideológica. Recorrem ao típico mito originário.
Gostam da ficção realista.
Se acham naturais.
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Pensam que me ofendem. ⠀⠀⠀⠀⠀
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Uso do mesmo anabolizante que o maromba, que constrói sua masculinidade em forma de músculo. Tão frágil e artificial quanto a minha. Facilmente reproduzível. Nada de inerente. Nada que o torne especial.
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O cisgênero também recorre aos adereços externos e supérfluos. Os hormônios foram feitos para eles, para retardar seu declínio biológico, para sanar suas disfunções. ⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀
Quantos nanogramas por decilitros de hormônios são o suficiente para sustentar a imagem do homem?
Quantas miligramas de viagra são usadas para preservar a masculinidade?
Quantos objetos generificados são necessários para manter o cistema de gêneros? ⠀⠀⠀⠀⠀
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Pensam que me ofendem. Tolos.
Sou tão fictício e artificial quanto um cis.

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