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BOSTAS GENDRADAS

O banheiro público é de fato um espaço para as sujeiras, tanto orgânicas quanto ideológicas.


Seria ingênuo pensarmos que ele está ao nosso serviço, uma zona livre de políticas, um palacete com um troninho reservado apenas para as necessidades que todos nós compartilhamos.


Não.


A violência já começa na arquitetura do lugar: o mictório somente reconhece e legítima os corpos “que estão do lado de cá”. O projeto arquitetônico expulsa ou constrange os demais.


Quando se é trans, você entra no sanitário se borrando, não só de bosta, mas de medo. Se sua performance não for convincente o suficiente, você sabe que vai dar merda.


E merda é merda! Com certeza, todas vão para o mesmo buraco, mas antes elas são segregadas.
Antes da bosta ser bosta ela é bosta feminina ou masculina.


A preocupação real não é com as nossas necessidades fisiológicas, mas com o controle dos corpos, com o embasamento do discurso sobre as diferenças biológicas e “naturais” que se estendem para todas as outras esferas.


A preocupação real é com manutenção do cistema.


Então, da próxima vez que usar o banheiro, lembre-se de usar a privada para dar descarga nas suas merdas, inclusive as que têm sobre gênero.

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