A BESTA LONDRINA
“Londres é uma besta!”
Foi assim que o vendedor de panquecas veganas e sem glúten a definiu. ⠀⠀
Enquanto conversávamos, sua barraquinha de plástico minúscula, que ficava no meio de uma das ruas mais movimentadas de Camden Town, se remexia violentamente, tentando resistir ao frio e às rajadas de ventos.
Provavelmente tentando sobreviver à besta.
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Descrente, com um olhar ingênuo e colonizado, respondi que a fera estava sendo gentil conosco. Ele anuiu com a cabeça. Era assim que ela funcionava: sedutora aos forasteiros, cruel com os congênitos. ⠀⠀
Desconsiderando algumas de suas anomalias, como Camden, Oxford e Convent, Londres é uma cidade cheia de ruelas vazias e silenciosas, becos escuros e suspeitos.
Vagar pela cidade é entrar nas entranhas da criatura.
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A vida não ocorre do lado de fora.
A fumaça das residências e dos estabelecimentos nos alarmam: o pulsar da cidade está no interior das tabernas e nos subsolos das casas.
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Os alarmes de incêndio disparam ao sinal de qualquer vapor.
As portas são grossas e pesadas.
A besta parece ter seus traumas. Lembra do seu passado.
Vemos mais imigrantes que londrinos.
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De fato, o corpo parece refletir o caráter da criatura.