As moléculas de testosterona sintética têm gerado uma revolução social e ideológica ao parir um corpo de difícil tradução.

A nova morfologia corpórea traz conflitos para a gramática cisgênera que só contempla os pares homem-pênis, mulher-vagina.

O corpo testosteronado abre espaço para a dúvida, para novas leituras e interpretações do que é gênero, do que ser homem e mulher significam. Esses personagens já não parecem tão palpáveis, tão naturais, não brotam do chão nem de uma costela.

A ejaculação sai pela boca e o esperma é a fala que se fecunda nas orelhas.

O cordão entre conceito e objeto foi rompido: homem-vagina, mulher-pênis.
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J. L. Austin dizia que fazíamos coisas com as palavras. Fazemos os gêneros também.
A biologia agora é manuseável, o laboratório clandestino para a construção de um novo sujeito fica em casa, com seringa e esparadrapos jogados no sofá. ⠀⠀⠀⠀
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Nada poderia ser mais artificial que a substância oleosa que injeto.
Nada poderia ser mais artificial que o gênero que vestimos.